Homem Aranha: Da Cannon para os dias de hoje


Já foram divulgados alguns detalhes acerca do novo filme do Spider-Man, bem como foi confirmado o título do longa-metragem, que será um nome direto e sem frescuras, simplesmente Espetacular Homem-Aranha 2.

De acordo com o que foi informado, nessa nova aventura veremos Peter Parker (Andrew Garfield) novamente tendo que cumprir a hercúlea missão de enfrentar a bandidagem, ao mesmo em que tenta não ser reprovado nas provas do colégio.

Como se não bastasse o turbilhão de problemas na vida do cabeça de teia, surge um novo vilão, o Electro (Jamie Foxx). Além disso, Peter Parker, que é um “nerd da velha guarda” (daqueles que não nutre um medo hediondo pelo sexo oposto), com muito sacrifício, tentará ao máximo cumprir a promessa feita ao finado pai da gostosinha Gwen Stacey (Emma Stone), que é manter uma considerável distância da guria, com intuito de protegê-la dos perigos que eventualmente deverão surgir.


Aparece também na trama o velho amigo Harry Osborn (Dane DeHaan, de "Poder Sem Limites") e novas pistas sobre o passado do aracnídeo serão reveladas.

O elenco contará também com Paul Giamatti (Rock of Ages: O Filme), Colm Feore (do seriado The Borgias) e Sally Field retornando como a tia May. Tem ainda Shailene Woodley (Os Descendentes) no papel de Mary Jane Watson. O longa estreia nos cinemas em 3D e 2D no dia 1º de maio de 2014.

Hoje, diante de tal notícia, a impressão que temos é que filmes de super heróis dão em árvores, porém há alguns anos a situação era diferente e nem sempre os estúdios tiveram dinheiro no bolso para mostrar todos meses, nas telas dos cinemas, um bando de gente vestindo máscaras e roupas coloridas.

A prova disso é:

Cannon Films - Quando o Homem Aranha foi derrotado pela falta de dinheiro

Em um tempo não muito distante, quando as locadoras de filmes dominavam a Terra, era muito comum as pessoas, nesses locais, se depararem com este símbolo:


Pois é, esse é o emblema da falecida Cannon Films, empresa já citada aqui no Satélite Vertebral e que deu ao mundo pérolas de ação e ficção científica protagonizadas por neanderthais do porte de Chuck Norris, Dolph Lundgren e Charles Bronson.

Nessa época a famigerada Cannon Films tentou produzir um filme do Homem Aranha, personagem criado pela santíssima trindade Stan Lee, Jack Kirby e Steve Ditko na década de 60. 


É até compreensível que a Cannon tivesse a ambição de produzir um filme do aracnídeo, visto que o Homem Aranha é uma figura de forte apelo popular. Tanto que é difícil alguém com 13 anos (e até muito mais) não se identificar com um cara que combate vilões dotados de poderes sobre-humanos e ainda arranja tempo de estudar para uma prova de química.

A Cannon deu o passo inicial para o filme do Homem Aranha em 1984, com produção executiva de James Galton (na época presidente da Marvel) e Joseph Calamari (diretor da Marvel).

O filme do Homem Aranha era então para ser dirigido por Tobe Hooper, que foi o diretor de O Massacre da Serra Elétrica, Poltergeist, entre outros. O roteiro ficou a cargo de Leslie Stevens, que produzia seriados para a TV. 



Se atualmente os nerds dente de leite sentem uma inefável dor nos rins quando notam a mais ínfima e pequena alteração que um personagem de HQ sofre ao migrar para o cinema, fico imaginando então que muitos entrariam em coma ao verem a lambança que o tal de Stevens iria fazer na história de Peter Parker.

No roteiro do cara, Parker seria um fotógrafo trabalhando para um poderoso laboratório chamado Zyrex Corporation. Dr. Zyrex, o poderoso chefão do laboratório, faria experiências com Parker sem o consentimento do pobre coitado, bombardeando-o com raios radioativos. 

Quando uma inofensiva aranha entra na mistura, Parker sofre uma mutação no melhor estilo A Mosca (filmaço do David Cronenberg), transformando-se em um ser meio humano, meio tarântula e com oito patas. Zyrex convida o recém-criado "Homem-Aranha" para integrar seu exército de mutantes e dominar o mundo, mas ele prefere voltar-se para o lado do bem e combater o cientista e seus monstros.

Temendo a mudança drástica do personagem e vendo que o próprio Stan Lee subiu pelas paredes quando soube do roteiro estapafúrdio, os produtores da Cannon demitiram Stevens e convocaram Ted Newsom e John D. Brancato para consertarem a presepada e redigirem um novo roteiro. Dessa vez supervisionado pelo homem, Stan Lee. Detalhe: Ted Newsom era roteirista apenas de filmes pornográficos.

Nesse meio tempo, Tobe Hooper  abandonou o projeto Homem Aranha e dirigiu, também para a Cannon, o longa-metragem Força Sinistra, um filme divertido demais, porém um fracasso de bilheteria.


Ted Newsom e John D. Brancato fizeram um roteiro mais fiel ao personagem dos quadrinhos, inclusive o vilão seria o Dr. Octopus. Vale destacar também que o filme teria participação especial de duas celebridades: o lutador Hulk Hogan e o apresentador David Letterman. O diretor dessa nova empreitada seria Joseph Zito, o cara que dirigiu Sexta-Feira 13 parte 4 e, para a Cannon, dirigiu Bradock e Invasão USA (ambas produções protagonizadas pela lenda viva Chuck Norris).


A Cannon gastou 1,5 milhão de dólares apenas na etapa de pré-produção do Homem Aranha. Naquelas circunstâncias, o longa-metragem de um dos heróis mais badalados da Marvel seria o maior lançamento do natal de 1986. Porém os cofres da empresa estavam praticamente vazios e o filme teve morte cerebral decretada.


No entanto, os produtores não desistiram e em 1988 foi o cineasta Albert Pyun que teve a missão de dirigir Homem-Aranha. Para cumprir tal intento, o diretor havaiano teve disponível risíveis 10 milhões de dólares, quantia essa que deixaria hoje um J.J. Abrams chorando de desespero. Para complicar, a Cannon decidiu que o Pyun iria dirigir, ao mesmo tempo e utilizando os mesmos figurinos e cenários, o filme Mestres do Universo 2

Infelizmente (ou felizmente, quem sabe) veio o prego que faltava para fechar a tampa do caixão do filme que nunca saiu: a Mattel (que tinha os direitos sobre He-Man) e a Marvel rescindiram o contrato com a Cannon devido aos problemas financeiros da produtora. Sendo assim a filmagem conjunta de Mestres do Universo 2 e o filme do Homem-Aranha foi sepultada de vez.

Quem acompanha o Satélite já deve saber como é o desfecho dessa história: utilizando o resto dos cenários e figurinos desses dois filmes, Pyun “tirou leite de pedra” e entregou Cyborg - O Dragão do Futuro, o último filme da Cannon a ir aos cinemas.

No início dos anos 90 os direitos do Homem-Aranha foram passados para uma outra empresa, a Carolco, responsável por filmes como Total Recall e Terminator 2. Foi aí que um tal de James Cameron resolveu embarcar no projeto.


Mas quem diria... James Cameron, hoje um dos maiores bunda mole do cinema mainstream, escreveu um roteiro violento e repleto de palavras de baixo calão, fato esse que deve ter provocado urticárias nos produtores (imaginem Peter Parker falando “motherfucker” e aumentando a censura de um filme que deveria ser feito para “toda a família”).

Sabe-se que mais tarde a Carolco também decretou falência e a possibilidade de ver o Homem Aranha nas telas de cinema foi extinta.

Todavia, com o passar do tempo, a situação mudou. No início desse século a Columbia, em um piscar de olhos, juntou uma grana que o Albert Pyun não teria nem em seus mais delirantes devaneios. Sendo assim, Sam Raimi efetuou uma bem sucedida trilogia desse herói que é um dos mais populares do planeta. Spider-Man 1, 2 e 3 renderam críticas relativamente boas pelo mundo afora, possibilitando assim um novo recomeço para o herói no Espetacular Homem-Aranha, protagonizado pelo Andrew Garfield.

Com pouco trabalho (exceto suportar as críticas dos nerds ranhetas) os engravatados da indústria cinematográfica hoje fazem filmes do Homem-Aranha (e de qualquer outro herói) com uma mão nas costas...


É... Os tempos são outros.

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