Rei Rato


Quem aprecia histórias de fantasia e ficção científica talvez já tenha ouvido falar no tal New Weird, termo que pode ser traduzido como novidade bizarra. Esse é um rótulo surgido mais precisamente durante a década de 90, no meio literário da Inglaterra, país que deu ao mundo gente como Alan Moore, Neil Gaiman e outros que escritores que se destacam por criar mundos fantásticos em histórias que deixam as leis da física de lado e fazem os leitores se desprenderem da realidade.

Embora eu considere que o New Weird de New não tenha nada, visto que caras como H.P. Lovecraft e até Stephen King, sem querer querendo e da maneira deles, já escreviam nesse estilo em suas respectivas épocas. 

Rótulos à parte, o New Weird tem por objetivo criar histórias onde o horror, a ficção científica e a fantasia andam de mãos dadas em um afável triângulo amoroso, sem perder tempo discutindo a relação e sem aqueles longos e infrutíferos debates acerca das questões teóricas de gênero. 

O New Weird, dessa forma, elimina aquela ideia restritiva (impostas algumas vezes pelas editoras, escritores e até pelo próprio público) de que ficção científica e fantasia devem se manter a anos-luz de distância uma da outra. Para quem, por exemplo, já estava cansado daquele estilo tolkieniano repleto de elfos, dragões, ou para quem já não aguentava mais a space opera com naves espaciais viajando até onde nenhum homem jamais foi, o New Weird mostra um suspiro de novidade ao misturar (e até renegar, em alguns casos) todos esses elementos, quebrando paradigmas e ignorando convenções.

China Miéville
Um dos grandes nomes do New Weird é o escritor britânico China Miéville, que possui fortes inclinações marxistas e é autor de livros como Perdido Street Station (2000), The Tain (2002), The Scar (2002), Iron Council (2004), Un Lun Dun (2007), The City & the City (2009), entre outros.


Eu li recentemente a obra de estreia do cara, lançada em 1998 sob o título de Rei Rato, lançada no Brasil pela Tarja Editorial.
A história ocorre em Londres, mais precisamente na parte suja da cidade, um ambiente hostil dominado por drogados, marginais e demais outsiders. Nessa trama é contada a história de Saul Garamond, um rapaz que não tem uma boa relação com o pai e que, para piorar, vê a sua vida se tornar um caos após ser acusado pelo assassinato do seu progenitor.

O guri vai preso, mas é resgatado por uma figura inusitada: um rato falante. Mas esqueça o Mickey Mouse, não estamos falando de uma fábula agradável e singela. Nesse caso específico o rato que salva Saul é uma criatura fétida e asquerosa. 

Além disso, é revelado que Saul deve ajudar o Rei Rato a derrotar um rival que eu, obviamente, não digo quem é, mas tem relação com uma antiga lenda conhecida por todos nós.
Narrado em uma prosa que não se preocupa com finais felizes e que mistura com fluidez as gírias dos guetos londrinos com uma atmosfera kafkaniana (porque não?), China Miéville consegue mostrar que fantasia é também leitura para adultos.

Rei Rato - Recomendado para: aqueles que sabem  que histórias com animais falantes não precisam ser necessariamente bonitinhas.
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