Da série "Ninguém gosta, só nós": O Mestre da Guilhotina Voadora


A guilhotina é um instrumento mortal, mas por mais paradoxal que seja, ela foi inventada com fins humanitários por um médico chamado Joseph Ignace Gillotin, na França, lá pelos idos de 1738, época em que esse país respirava os ares da revolução.

Se na França a guilhotina tinha o intuito de provocar uma morte rápida e indolor, em uma produção cinematográfica de Taiwan e Hong Kong, esse instrumento foi mais além e também se tornou uma arma criativa, com design arrojado, ergonômica, voadora e tão funcional quanto uma uma carteira leva-tudo.

E é justamente o Mestre da Guilhotina Voadora o tema de mais um capítulo da infame série “Ninguém gosta, só nós”, o espaço onde os integrantes desse blogue aparecem para defender filmes que passariam a anos-luz de distância do tapete vermelho do Oscar.

Essa obra-prima da sétima arte me conquistou já pelo título. Afinal, unir em uma mesma sentença as palavras guilhotina e voadora faz o incauto leitor imaginar como ocorre o processo de manuseio de uma tranqueira dessas.

No filme, um perito em artes marciais derrota os seus oponentes jogando neles uma corrente. Na ponta dessa corrente há um artefato que envolve a cabeça dos mesmos e, que ao ser puxado, decapita os infelizes com a mesma desenvoltura de um abridor de garrafas. O mais engraçado (ou mórbido) é que o aparelho é tão funcional que a cabeça do adversário já fica depositada em uma espécie de recipiente. Uma morte rápida, sem choro e ranger de dentes.

O Mestre da Guilhotina Voadora é uma produção de 1976 e é a continuação de um longa-metragem chamado O Boxeador de um braço, lançado em 1971. Eu olhei primeiro a sequência e apenas tempos depois descobri a primeira parte. Ainda assim, eu prefiro a segunda aventura.

A sinopse do Mestre da Guilhotina... compreende uma trama de vingança, tema comum em nove de cada dez filmes de artes marciais. No longa-metragem, o protagonista Liu Ti Tung (interpretado pelo próprio diretor e roteirista Jimmy Wang Yu), é o boxeador de um braço. Ele é perseguido por um tal de Fung Seng Wu Chi, um mestre lutador cego que carrega para onde vai... advinhem... uma guilhotina voadora. Até uma suástica o velho tem como símbolo, mas vale lembrar que esse emblema, antes de ser distorcido pelo nazismo, possui outros significados na cultura oriental.


Quando esse mestre descobre que os seus discípulos foram mortos por um boxeador de um braço, ele sai ao encalço do referido indivíduo, ocasionando assim um amontoado de cenas com muita pancadaria e momentos absurdos (se você não esboçar nenhum sorriso diante das coreografias apresentadas, o seu ramo é mesmo “cinema iraniano”).

O que eu aprecio bastante nesse filme são justamente as características nada comuns dos personagens. Se já não bastasse ter um boxeador que com apenas um braço faz o maior estrago em seus oponentes, ainda há um lutador indiano com o dom de esticar os seus braços tal qual o Reed Richards do Quarteto Fantástico (inclusive, já vi gente comentando que esse personagem é a inspiração para o Dhalsin do Street Fighter). Aliás, os efeitos especiais que visam destacar as habilidades nada convencionais desse lutador são uma obra-prima do “improviso”, o que torna esse filme obrigatório para qualquer um que queira dar risada com o cinema feito no esquema “custe o que custar”.


Falando em referências, o Quentin Tarantino faz alusões a esse filme em seus dois Kill Bill. Alguns dizem que a arma com esfera presa em uma corrente, carregada por aquela guria oriental, é inspirada na guilhotina. Há também a música tema, que pode ser ouvida durante a cena da Casa das Folhas Azuis.


Apesar do longa-metragem possuir um seleto grupo de admiradores, esse Mestre da Guilhotina Voadora é estraçalhado por várias pessoas que conheço. Seja por causa do seu roteiro simples ou pela produção capenga. Tanto que quando eu tento exaltar as qualidades desse filme em conversas entre amigos, sou encarado por olhares inquisidores que almejam me jogarem na guilhotina mais próxima.

O Mestre da Guilhotina Voadora - Recomendado para: Quem procura, com o perdão do trocadilho infame, um filme de “virar a cabeça”.
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