Evil Dead (2013)




O terror de cabana é algo bastante simples.
Não sem motivo pareceu tão inteligente a releitura do subgênero em O Segredo da Cabana pelo roteiro de Joss Whedon, e Drew Goddard, e dirigida pelo próprio Drew Goddard.
E na verdade, não havia a necessidade de ser muito complicado mesmo, no geral.
Após um início de apresentação imediata de personagens, logo os motivos da viagem pro tal local afastado eram esquecidos pra tentar sobreviver e gritar mais alto uns que os outros.
E tanto é que a tal simplicidade não era problema nenhum, que utilizando-a um diretor com uns punhados de dólares amassados nos bolsos e uma cara-de-pau singular, conseguiu criar um clássico referencial do cinema trash.


É difícil (pra não dizer impossível) um dito fã de filmes de terror que não ao menos “curte” o Evil Dead filmado por Sam Raimi em 1981.
E isso porque o cineasta trazia junto com os dólares amassados e uma corja de gente desocupada e apaixonada por cinema, um monte de ideias.
E é assim que um potencial “filme qualquer” é lembrado e homenageado até os dias de hoje.
Provas disso são a anunciada sequência de Army Of Darkness, e a refilmagem tão aguardada que deu as caras nos cinemas em 2013.
Deste remake, dirigido pelo uruguaio Fede Alvarez, vale lembrar que o Fede virou cara ilustre graças a um curta-metragem que virou uma espécie de blockbuster nerd na web, e chamou a atenção do Sam Raimi que vivia às custas do status junto aos públicos distintos que ele conseguiu agradar com seus trabalhos, e os dividendos adquiridos com a trilogia Homem-Aranha, e posteriormente com sua reinvestida no terror com “Arrasta-me para o Inferno” (2009).
 

Assim sendo, cabia ao Alvarez gerenciar os $17 milhões recebidos, entre atores de popularidade inexpressiva, uma locação fétida e barata, e alguns galões de um concentrado de groselha escuro e viscoso (ou CG, dependendo da cena).
Sabiamente, ele escolheu a nata dos desconhecidos para protagonizar as atrocidades que a entidade do título lhes reservava.
Claro que, isso trazia consigo um efeito positivo no orçamento, e nas possibilidades de que qualquer um se ferre valendo, em qualquer potencial dolo que esteja à espreita.
No entanto, o tiro no escuro ao encontrar o carisma do canastrão Bruce Campbell já seria algo bem mais complicado de repetir.
Não tem nada de errado com a atuação do quinteto da ocasião. É aquela democrática diversidade típica nos terrores de cabanas, e não se pede muito de ninguém além da trivial cara de susto e gritos desmedidos.
O que falta mesmo é o algo mais.

O roteiro até consegue incrementar um pouco as coisas com o drama da protagonista Mia (Jane Levy), viciada em drogas em busca de reabilitação, e o passado familiar que orbita os irmãos que integram a trupe de eventuais vítimas.
Porém, não é que precise ser um dramão, nem nada, mas tem que ser o suficiente pra que o espectador se importe ao menos um pouco ao ver o show sádico ao qual eles são submetidos.
Enfim, não chega a ser tudo isso, e a responsabilidade maior fica mesmo com o nível da inventividade gore do diretor pra que, mesmo havendo gente em cena só pra estatística, a agressão seja tamanha que não importe quem sofra, incomode o público.
E é percetivelmente nisso que está o enfoque da produção, seguindo tendências do cinema de terror recente, sem muita preocupação com aquela atmosfera de “o que será que vai acontecer na próxima cena?”, e muito mais em “quem vai ser o próximo a ser despedaçado?”.
Nesse ponto, ninguém pode dizer que foi enganado pelos trailers divulgando o filme.




No geral, quase todos os principais adereços da saga de Ash retornam de alguma forma durante o final de semana agitado de Mia, e os quais eu prefiro não mencionar pra não estragar o entretenimento de ninguém.
Não saberia dizer como é que esses elementos funcionam no entender de um eventual espectador que desconheça o longa-metragem original, mas pra mim trouxe um saudosismo instigando a rever o filme de 1981.
Mas é bom destacar que, os Evil Deads são muito diferentes entre si, e o fetiche de Alvarez está principalmente em mostrar à plateia algum artefato cortante, e demonstrar com objetividade a forma mais dolorosa de empregá-lo.
Nesse sentido, a eficácia dos efeitos de maquiagem é impressionante, com direito a vômitos em profusão, desmembramentos, espancamentos, mutilações, e tudo mais que ofende os fãs do seriado de TV The Walking Dead.


O que prejudica especialmente o novo Evil Dead é aquela estrutura no background, com aquele salvamento no momento exato, o clichê camuflado, e o protagonista (Shiloh Fernandez) apático e sem atitude alguma pra que alguém torça por ele. O medo dele não deveria ser desculpa pra ficar assistindo o que acontece com cara de figurante, afinal Ash mesmo todo cagado, ainda assim demonstrava muita atitude contra as ameaças que vinham pra ser inconveniente na sua curtição.
Desse modo, o saldo fica um tanto desfavorável pro que prometia ser o mais assustador de todos os fimes de terror.
Afinal, se na franquia original a falta de atores dignos do Oscar não era problema por ter um protagonista  carismático e nascido para o papel que interpretaria, e a violência em si não era o ponto fundamental (ainda que fosse onipresente), devido à criatividade exacerbada de seu diretor, no remake as convenções são seguidas com apenas a adição de gore em porções não recomendadas para a família brasileira.
E do restante do elenco resta a estereotipação, e quase ausência de falas que prestem (ou de qualquer fala), deixando bem claro que eles estão ali pra que algo lhes arranque pedaço, nessa versão que lembra muito uma história de zumbis no que se refere à possessão.


Novamente, no que parece ser sua proposta, que é perturbar, o Evil Dead de Fede Alvarez se sai competente, mas no quesito ser um filme com identidade própria, ele fica devendo.
Basta um pontapé em um blog dedicado a trashmovies pra saltarem um monte de torrents de similares ao remake de Evil Dead, alguns legais, outros não tanto.
Evil Dead é um dos que cumprem o papel de divertimento passageiro.
Agora, a pergunta é, ele seria digno de menção em uma conversa cinéfila se não fosse pelo título do clássico que ostenta.
Meu palpite é que não.


Quanto vale:

Confira também, aqui no blogue, o dossiê Evil Dead.


A Morte do Demônio
(Evil Dead)
Direção: Fede Alvarez
Duração: 91 minutos
Ano de produção: 2013
Gênero: Terror

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