Borgia


Sério, eu nunca assisti a um episódio daquele seriado televisivo chamado Os Bórgias, que aborda os trambiques e as sujeiras cometidas por uma das famílias mais destrambelhadas de que se tem notícia (depois dos Simpsons, obviamente). Bórgia era a família do patriarca Rodrigo Bórgia que, durante o século XV, por meio de mentiras, conspirações, assassinatos e demais falcatruas não diferentes das que os nossos políticos de hoje fazem, conseguiu a façanha até de se tornar Papa. Sim, Rodrigo Borgia se tornou o Papa Alexandre VI.

Mas como eu tenho um leve apreço por histórias envolvendo o período renascentista, comecei a ler recentemente o livro Bórgias, que fala sobre essa família de índole duvidosa, sempre ávida para cometer atrocidades capazes de corar até o Darth Vader. O livro, lançado em 2001, é o último trabalho do falecido escritor Mario Puzo, o mesmo sujeito que redigiu o celebrado romance O Poderoso Chefão.


Aproveitando o livro, me deparei também com a HQ Bórgia, lançada em 2004. Essa HQ é um projeto que envolve roteiros do cineasta, escritor e psicomago(??), Alejandro Jodorowsky e desenhos do ilustrador italiano Milo Manara. Juntos, esses dois mestres realizaram essa excelente publicação quadrinhística, baseada nessa família famosa por seus ato, digamos assim, politicamente nada corretos.

Apenas pelo fato do nome Milo Manara estar envolvido no projeto já é possível perceber que a referida revista deve ser mantida distante de crianças, pois Manara, reconhecidamente um dos grandes mestres dos quadrinhos eróticos, não poupa na sensualidade das ilustrações. A putaria nas mãos de Milo Manara facilmente atinge o status de arte. Aqueles, por exemplo, que já tiveram o prazer de apontar suas retinas para as páginas de revistas como a Clic e algumas histórias publicadas na HQ Heavy Metal devem bem saber que o cara sabe desenhar mulheres curvilíneas com uma inefável precisão.

Clássico do Milo Manara


Os roteiros de Jodorowsky não ficam para trás em termos de ousadia. Artista provocador que é, o cara deve ter se esbaldado ao dar vida a todas as conspirações e maquinações políticas realizadas pelo clã Borgia.

A ordem cronológica dos volumes da HQ Bórgia inicia em 2004, com o lançamento de Sangue para o Papa. O segundo volume foi lançado em 2006 com o título de O Poder e o Incesto. Em 2007 e 2010, respectivamente, foram lançados As Chamas de Pira e Tudo é vaidade.

No primeiro volume, O Papa Inocêncio VIII está adoentado e acredita que transfusões de sangue de meninos (daí o nome do volume) e leite de mães curarão sua enfermidade. Nesse contexto, Rodrigo Bórgia, ainda um cardeal, é pai de quatro crianças (talvez até mais), os então adoráveis César, Giovanni, Jofre e Lucrécia. Nada se opõe a Rodrigo quando ele coloca na cabeça que quer alguma coisa. O cara possui movimentos friamente calculados, assassina algumas pessoas, conta umas mentiras aqui e ali e finalmente… Se torna o Papa.


No segundo volume, os filhos já estão crescidos e Rodrigo os utiliza para conseguir mais poder.
É nesse volume que já é mostrada a relação incestuosa entre Cesar e Lucrécia.

No terceiro volume, onde ocorre um baile de máscaras, Milo Manara simplesmente faz a festa.
Além disso, já é retratada também uma Roma decadente e assolada pela peste negra.


No último volume, além de contar com a participação do Leonardo Da Vinci (o homem que é um dos maiores símbolos do Renascimento), o roteiro finaliza a história de forma soberba.

No saldo geral, Borgia é uma HQ de rara beleza e densidade, mostrando que quando o assunto é arte adulta, Manara e Jodorowsky dão aula.

Borgia - Recomendada para: Quem reclama e pensa que a sua família não é normal.


Previous
Next Post »