O Hobbit: A Desolação de Smaug (2013)



Do passado gore de Peter Jackson para o posto de um dos maiores multiplicadores de cifras do cinema houve uma trajetória que facilmente me lembra a de Sam Raimi.
Porém, enquanto após a bilionária franquia Spider-Man, Raimi tem tido dificuldades pra apresentar trabalhos assistíveis por qualquer motivo diferente de mera curiosidade dos fãs, Peter Jackson, ao retornar às adaptações das aventuras na Terra-Média, manteve-se por cima da carne seca, afinal, todo novo filme da franquia vem como potencial épico clássico.
No entando, O Hobbit não é O Senhor dos Aneis.
Esse primeiro detalhe já dividiu opiniões quanto à primeira parte da nova trilogia.
O Hobbit: Uma Jornada Inesperada, apesar de fiel ao livro, não agradou quem esperava um filme sombrio, ainda que tenha sido adaptado de um livro voltado ao público infanto-juvenil.
Assim sendo, entre o primeiro e o segundo episódios da trajetória de Bilbo Bolseiro (Martin Freeman) havia esse questionamento quanto ao tom escolhido para A Desolação de Smaug.



Dessa vez, com a proximidade do ouro que serve de colchão para o dragão Smaug (Benedict Cumbertatch) os egos começam a entrar em atrito, e faz com que a nobreza de alguns seja questionada.
Isso é interessante e traz mais profundidade ao desenvolvimento dos personagens, algo que foi o grande problema do filme de 2012.
Dentre tantos personagens, não haver maior envolvimento ou não conhecer melhor a motivação de cada um só afasta o espectador e faz dele mais voyeur e menos participante imerso na realidade fantástica da obra.
Ainda assim, há os novos personagens Bard (Luke Evans), o troca-peles Beorn (Mikael Persbrandt), além de uma ainda mais inútil participação em relação ao primeiro filme de Radagast (Sylvester McCoy), e sub-tramas que não permitem mais espaço e falas para a comitiva rumo a Erebor.
Parte disso era necessária conforme apresentado no livro.
Outra parte não mesmo.



Ao menos Bilbo parece mais protagonista desta vez e tem papel mais atuante com sua personalidade sendo
modificada conforme os desafios lhe exigem uma postura heroica.
Además, as atuações de Richard Armitage (Thorin Escudo de Carvalho) e Ian McKellen (Gandalf) mantêm o nível visto anteriormente, enquanto dos demais anões pouco se destaca a ponto de ser lembrado, a não ser uma sequência de luta envolvendo Bombur (Stephen Hunter) e um barril, que é o momento mais engraçado de toda a metragem.

Claro que tudo é muito bem filmado, e novamente, assistir em 48 quadros por segundo é um privilegio, que enriquece a experiência visual inundando a tela de detalhes, e permitindo o 3D mais nítido e poderoso que o cinema já conheceu.
Além disso, é claro, a presença de Smaug é um espetáculo à parte.
Tanto a atuação de Benedict Cumberbatch quanto a interação do monstro com tudo à sua volta são perfeitos.


O problema, mesmo, é o propósito escancarado do filme e o uso feito das qualidades mencionadas acima pra criação de uma franquia bem mais convencional e sem o mínimo de coragem.
Nesse sentido, são três os principais elementos que soam muito gratuitos e desnecessários na produção:


  1. Legolas: o elfo interpretado por Orlando Bloom, ganha espaço e possibilita cenas de ação muito boas. E não vejo necessariamente algo de errado com o fato de ser algo novo em relação ao livro. O problema é a sua utilização, e o quanto esses minutos teriam sido úteis pra fortalecer a ligação cada vez mais fraca entre os viajantes;
  2. Tauriel: ser o catalisador de um aspecto romântico forçado e constrangedor foi a maior razão de existir da elfa, que na atuação de Evangeline Lilly não consegue sobrepujar a impressão de que não havia necessidade de que ela existisse no roteiro; e
  3. Os excessos de clichês e salvamentos de última hora, que vão minimizando a força das ameaças enfrentadas, e tornando vazias as sequencias de ação e pirotecnia.

Sem dúvida o tempo a mais influenciou nessas decisões, fazendo com que a possibilidade de preencher as 2hs e 40min trouxesse liberdade pra engendrar participações especiais e maior investimento em CG, o que na teoria de produtor de cinema é tudo o que o público quer ver.
Muito por essa compreensão errônea do que o filme precisava, “O Hobbit: A Desolação de Smaug” tem sobras demais.


Se nos tempos de Dragonslayer, Willow, e diversos outros espada e magia, bastava 1h e 40min pra contar um roteiro coeso e sem excessos, o prolongamento da saga de O Hobbit apenas apresentou um trabalho de Peter Jackson mais perdido e comum estruturalmente, acumulando os defeitos e cacoetes hollywoodianos e diminuindo a confiança e expectativa quanto ao desfecho da trilogia.
A Desolação de Smaug consegue ser bem divertido em vários pontos e obviamente é muito bem produzido e atuado, mas faz questão de se privar das chances de ser mais por não lembrar do tema (e personagens) que deveria desenvolver, em prol de easter eggs e participações especiais.
Se era pra apresentar um roteiro de tal forma infectado pelos cacoetes de Hollywood, o melhor teria sido reassistir uns VHS.
Uns daqueles dos tempos em que uma boa ideia não vinha com obrigação de virar franquia de pelo menos três filmes.


Quanto Vale: 


O Hobbit: A Desolação de Smaug. Recomendado para: depositar as esperanças no terceiro filme, que quem sabe conserte as cagadas deste de 2013.

O Hobbit: A Desolação de Smaug
(The Hobbit: The Desolation of Smaug)
Direção: Peter Jackson
Duração: 161 minutos
Ano de produção: 2013
Gênero: Aventura/Fantasia

Confere NESSE LINK  a crítica de outros indicados ao Oscar 2014.


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