Satélite Entrevista - Juan Manuel Tellategui

Créditos: Divulgação

Já foi efetuada aqui no blogue uma breve resenha acerca do filme argentino Pompeya. Agora, publicamos uma entrevista com Juan Manuel Tellategui, que nessa produção interpretou o personagem Alex.

Tellategui (a pronúncia correta é “Telhatégui”, um sobrenome basco) nasceu em Zárate, província de Buenos Aires, mas mora há mais de dois anos em São Paulo. Recentemente ele se formou em atuação na SP Escola de Teatro e, no fim de 2014, finalizará o curso superior em teatro na Faculdade Paulista de Artes. É interessante destacar  também que o ator argentino já apareceu na peça brasileira Cabaret, dirigida por André Latorre.

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O artista, que é ator desde os 15 anos e estudou atuação no Instituto Universitário Nacional de Artes de Buenos Aires e no Teatro Municipal de Zárate, falou para nós sobre o seu trabalho em Pompeya, bem como sobre os seus futuros projetos e o atual panorama do cinema de gênero na América Latina.
Confira então a nossa conversa com Juan Manuel Tellategui.

1 - Você já atuou antes em outros filmes ou Pompeya é a sua primeira experiência cinematográfica?
Antes de Pompeya fiz outros dois longas no cinema argentino: Puto (2006), de Pablo Oliverio, e Las Pistas (2010), de Sebastian Lingiardi. Também já tinha participado de alguns curtas-metragens, entre eles Humauaca 70, dirigido pela mesma diretora de Pompeya, Tamae Garateguy. Então, quando rodamos Pompeya, já tinha alguma experiência em cinema, mas cada trabalho impõe novos desafios. E este filme foi muito importante na minha carreira. 

Tellategui em Las Pistas - Créditos: Divulgação

2 - Como o filme Pompeya foi recebido em festivais?
A estreia de Pompeya foi no Festival Internacional de Cinema de Mar del Plata, na Argentina, em novembro de 2010. Eu estava lá quando ganhamos o prêmio de melhor filme nacional e foi muito emocionante para toda a equipe. Isso serviu, com certeza, para abrir muitas portas para outros circuitos cinematográficos e festivais internacionais, como City to city em Toronto, Free Spirit Award em Varsóvia, o Festival de Cinema Latino-Americano de La Plata, na Argentina, o Festival Audiovisual Mercosul de Florianópolis e o Festival Ibero-Americano de Cinema do Rio, no Brasil, ou o Festival South by Southwest, nos Estados Unidos. Infelizmente, não consegui acompanhar o filme nos festivais, já que me mudei para o Brasil nesta época, mas sempre soube por Tamae da ótima acolhida que Pompeya teve em todos os lugares por onde passou. Ficamos muito felizes por um filme de gênero de um país que não vinha apostando nessa estética ter tão bons resultados.

3 - Garateguy é uma diretora que parece ter um amplo controle e conhecimento sobre os atores com quem trabalha. Como foi atuar em um filme dessa cineasta?
Já tinha feito outros trabalhos com Tamae. Além do curta Humauaca 70, que também rodamos em Buenos Aires, ela fez alguns vídeos para uma peça de teatro que fazíamos com outros atores que também estão no filme, Frágil, dirigida por Miguel Forza de Paul. O resultado dessa experiência foi tão satisfatório que logo nos vimos trabalhando juntos outra vez em Pompeya. Tamae, além de diretora, também é atriz, isso é um diferencial na relação que ela tem com os atores. Cada vez que se rodava uma cena, as indicações e marcações de Tamae eram fundamentais, sobretudo porque tinha cenas que só eram possíveis serem filmadas uma vez. Minha experiência neste filme foi ótima, tanto no profissional quanto no pessoal. Tamae é uma grande artista que sabe dirigir as pessoas para dar o seu melhor. E também se tornou uma amiga muito querida.

4 - Pompeya possui uma forte influência do cinema de gênero, mais precisamente os filmes de máfia, que são comuns no cinema norte-americano. Como o público argentino reagiu ao ver um filme sobre gângsters?
A reação foi positiva, porque o filme de gênero, de alguma maneira, já está inserido na nossa cultura. Decodificamos seus códigos no nosso inconsciente, só que também o espectador gosta de se identificar com aquilo que vê. Então, Pompeya trouxe para os argentinos uma combinação de diversos biótipos, que existem no cotidiano de Buenos Aires, em cenários que são reconhecíveis, como o próprio bairro portenho de Pompeya ou a ponte Alsina, entre outros. Isso, junto da história de máfias (que também existem!), deu uma combinação surpreendente não só para os espectadores, senão também para outros cineastas que começaram a ver o gênero como uma alternativa possível. Quando foi exibido nos cinemas de Buenos Aires, havia filas para ver Pompeya.

5 - Pompeya possui um certo tom de brutalidade. Como foi gravar as cenas mais fortes?
A premissa sempre foi trabalhar com um alto grau de verossimilhança, porém, com o mesmo rigor técnico que se precisa para reproduzir na rodagem o que foi ensaiado. Eu, por sorte, me dei bem nessa: meu personagem leva um disparo e cai numa piscina. O problema é que gravamos em um dia muito frio de inverno e acabei ganhando uma gripe com essa cena.

Tellategui e a atriz Jasmin Rodriguez - Crédito: Divulgação

6 - Qual foi a sua inspiração para construir o personagem Alex?
Alex é um personagem totalmente plausível. Por isso, tive sorte na composição, muitas coisas me inspiraram. Tentei procurar vários materiais, como reportagens de jornais de jovens de classe alta que cometem crimes e que não conseguem identificar sua atitude como criminosa, pessoas em situações inexplicáveis pelo uso de estimulantes e narcóticos, mas, sobretudo, a informação que vem do inconsciente do nosso cotidiano. Tento me deixar guiar muito pela minha intuição e, claro, pela direção.

7 - Atualmente, qual você acha que vai ser o direcionamento do cinema argentino? Você acredita que haverá mais espaço para o cinema de gênero?
Essa é uma pergunta difícil de responder. Com o prêmio de Pompeya em Mar del Plata, se falou muito sobre a incursão de cabeça do cinema argentino no gênero. Tivemos recentemente um filme de suspense, Tese sobre um Homicídio, com Ricardo Darín, que também passou no Brasil. Mas, também acho que o espírito argentino cinematográfico continua sendo muito forte no drama e nesse olhar sensível e particular que os diretores argentinos têm. Mesmo assim, as portas para o gênero já estão abertas, e a experiência com Pompeya deu grandes resultados. Acho que, com esse precedente, com certeza mais diretores se aventurarão em propostas alternativas.   

Cena de Pompeya com a atriz Jasmin Rodriguez - Créditos: Divulgação

8 - Você tem muito contato com o cinema brasileiro?
Já conhecia um pouco e estou começando a ter mais contato, sobretudo depois que vim morar no Brasil. Gosto muito de cinema. É uma das linguagens, junto do teatro, pelas quais sou apaixonado. Tento acompanhar as estreias e filmes antigos também. Creio que a produção cinematográfica quase sempre acompanha os momentos históricos de um país, seja como discurso ou como forma de produção. E isso me interessa. No caso do Brasil ou mesmo da Argentina, que tem passado por experiências similares como a maioria dos países latino-americanos, têm formas diferentes de se expressar e acho isso muito interessante, de como cada cultura faz as suas catarses. Há muita coisa interessante no cinema brasileiro, como os filmes do Fernando Meirelles. Também achei tocante O Palhaço, de Selton Mello.

9 - Quais são os seus futuros projetos na área cinematográfica?
Neste ano, farei meu primeiro longa-metragem no cinema brasileiro. O filme se chama Pródigo, do diretor paulista Pedro Lucínio. O longa conta a história da parábola bíblica do filho pródigo, ambientada na atualidade, entre São José do Rio Preto e São Paulo. Vou fazer o vilão da história. Este é um projeto muito querido. Estou torcendo para que tenha tanto sucesso quanto os outros filmes dos quais participei. Espero que o cinema brasileiro me dê as boas-vindas e que venham muitos filmes mais pela frente.

Obrigado Juan por sua entrevista, bem como por seu carinho em relação ao cinema de gênero. Parabéns também pela sua atuação em Pompeya e desejamos para você sucesso em seus futuros trabalhos.

Créditos: Divulgação
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