Álbum de Família (2013)



Era um tipo de sacaneação tradicional.
O nome de Julia Roberts, tão apegado a um tipo de filme tão específico e meloso, era mencionado nas conversas pra denegrir a imagem de alguém. Por exemplo: fulano não assistiu o jogo porque tava assistindo filme da Julia Roberts.
Talvez com outras palavras, ou até subentendido, mas era assim.
Com o passar do tempo o cara aprende, e passa a compreender que nem todo filme do qual ela participa é igual, etc.
Mas o que pareceu é que ela mesma não aprendeu, e tal qual todo mundo da geração dela, acabou caindo no ostracismo.


Exemplo diferente é o da Meryl Streep, que mesmo quando o seu filme da temporada não agrada ao espectador, ela costuma se sair ilesa de comentários negativos porque é a atriz destaque, e seria mesmo se o roteiro fosse tão raso quanto o argumento de alguém que defende “The Dark Knight Rises”.
Quem sabe por isso principie tão potencialmente forte o filme “Álbum de Família”, mais um dos indicados ao Oscar 2014, com um diálogo simples entre o casal Violet (Meryl Streep), e Beverly Weston (Sam Shepard), enquanto ele apresenta a nova empregada da casa, encarregada de ser um auxílio especialmente nesse momento em que Violet enfrenta um câncer.
Uma tragédia imediata a seguir será encarregada por reunir a família que há muito tempo não voltava à velha casa dos pais.
A galeria de atores tem curriculum vitae suficiente pra que eu os mencione aqui: as filhas do casal de protagonistas são Barbara (Julia Roberts), Ivy (Julianne Nicholson), e Karen (Juliette Lewis), e também estão lá pra quebrar pratos (às vezes literalmente) a irmã da matriarca Violet, Mattie Fae (Margo Matindale), seu marido Charlie (Cris Cooper), o filho deles, chamado de Little Charlie pela família (Benedict Cumberbatch), e também o marido de Barbara, interpretado pelo Ewan McGregor, a filha deles Jean (Abigail Breslin), e o noivo de Karen, Steve (Dermot Mulroney).
Muita gente, além da empregada nativa americana Johnna (Misty Upham).
Então, esse punhado de gente com problema demais pra lidar, e que acumula outros nas oportunidades que surgem, se reúne pra confortar uns aos outros, o que, obviamente, resulta em uns contando os podres dos outros, se xingando, e lembrando porque eles não se reuniam faz tempo.


Um draminha.
Apesar dos temas polêmicos que aborda de maneira bem direta.
E apesar da atuação da Meryl Streep ser mais uma vez absurda, esse jeitão de dramalhão descarado, sem concessões, e quase “à moda antiga” (no sentido negativo), em se tratando do subgênero, é muito, mas muito sem graça.
Mas o diretor consegue reduzir isso de um modo que exige talento. O super-poder de sub-aproveitar um roteiro.
Tá certo que daqui a pouco, quando as coisas vão se complicando o filme vai ganhando intensidade, e claro, o elenco é competente, e a Julia Roberts grita e esbraveja bastante, o que demonstra bastante esforço e entrega ao papel, além de uma densidade não usual pra ela.
A partir da sequência do almoço, que se desenrola em uma discussão bem amarrada, que enfim o longa-metragem dirigido pelo John Wells começa a ficar interessante.
Mas ainda assim irregular.


Poderia dizer que, pro seu subgênero ele consegue um efeito superior à maioria, nessa adaptação peça do Tracy Letts, feita por ele mesmo pro roteiro de cinema.
O que não adianta muito, porque na comparação com vários outros, exemplares de bom cinema por si mesmos, sem forçar a boa vontade, “Álbum de Família” fica mais no empenho dos atores, e algumas reviravoltas do roteiro que fazem dele algo bem distante de um romancezinho.
A presença do personagem da Meryl Streep, no geral garante isso por si só.
A matriarca da família Weston é amargura transbordando que ela faz questão de utilizar pra afastar todo mundo com suas acusações sem rodeios, e seu vício nos excessos em tudo que o médico receita em pequena quantidade.
Claro que facilita ali que todos os integrantes da família tenham o rabo preso e algo que hora ou outra vai ser revelado pra provocar desconforto familiar que pode eventualmente resultar em demonstrações além do verbal.


O roteiro tem seus méritos, e o elenco idem.
O que não se garante é a direção do John Wells, burocrática e comum, ainda que com o bom trabalho de fotografia, que não consegue maquiar a trilha sonora clichê, que é daqueles exemplares constrangedores visando manipular a emoção do espectador de maneira óbvia e sem criatividade que se destaque na sua composição.
“Álbum de Família” pode até possuir suas várias surpresas, e alguns momentos mais intensos, afinal, o núcleo familiar tem realmente motivos pra não suportar a presença uns dos outros.
Agora, que é um filme pra esquecer relativamente rápido, isso com certeza ele é.


Quanto vale:



Álbum de Família. Recomendado para: quem sempre curtiu dramas familiares, mas achava que faltava um pouco mais de desentendimento entre os personagens.

Álbum de Família
(August: Osage County)
Direção: John Wells
Duração: 121 minutos
Ano de produção: 2013
Gênero: Drama

Confere NESSE LINK  a crítica de outros indicados ao Oscar 2014.


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