Killers (2014)



O cinema oriental relatando histórias policiais, de vingança ou de serial killers é um verdadeiro subgênero, se comparado aos longa-metragens de recantos mais hollywoodianos do globo terrestre.
Conforme eu já mencionei aqui, o cinema norte-coreano é o que tem brindado as plateias com o cinema de ação mais instigante e devastador sem pudores, principalmente pela elaboração de roteiros imprevisíveis, e sem amarras com heroísmos e morais da história.
Porém, em outros países nas cercanias muitas das características se repetem, pra criar por vezes filmes poderosos, e em outras, meros arremedos.



Com direção do Kimo Stamboel, e do Timo Tjahjanto (os chamados Mo Brothers), "Killers" tem envolvidos na produção estúdios do Japão e da Indonésia, e visa criar um daqueles intrincados jogos de gato e rato que já possuem um público certo aguardando pra assistir.

Já nas primeiras cenas a apresentação de um dos assassinos aos quais o título se refere, ocorre do modo correto e burocrático de sempre. Aquelas pessoas desagradáveis que vivem de maneira metódica na rotina de desmembramento da vítima antes da próxima.
O filme não tem necessariamente um protagonista bem definido, e em grande parte depende da afinidade do público em relação aos personagens.
Um deles seria o japonês Nomura (Kazuki Kitamura), que vive em constante caça, lembrando o personagem de Choi Min-Sik, em "I Saw The Devil".
Mas um grande ponto a considerar já surge aí, pois nem com excessiva boa vontade esse primeiro assassino de "Killers" chega perto do impactante vilão interpretado por Min-Sik.
Não é a comparação pela comparação, mas estruturalmente os dois filmes possuem detalhes bastante próximos, e ainda que diferente, Nomura precisaria ser muito melhor interpretado pra tornar envolvente a trama que envolve o seu jogo de matança.
A outra ponta da corda é o repórter indonésio Bayu, que se vê imerso na loucura dos atos de Nomura, e cada vez mais se perde na loucura desse mundo restrito de total descaso pela vida alheia.
Tal qual o intérprete de Nomura, o ator Oka Antara, que interpreta Bayu é mais esforço do que competência, tornando ambos bem menos carismáticos do que poderiam, ainda que o viés da desconstrução de um deles pra catalisar o seu lado homicida fosse bem interessante na premissa.



Isso já seria motivo o suficiente pra "Killers" não funcionar enquanto filme dependente de sua dupla de atores principais.
Acontece que, até mais prejudicial é o andamento de idas e vindas do roteiro, sem foco, ou poder de se mostrar um enredo que faça uso das cenas de violência pra que a história se torne mais interessante, ou convincente.

A violência está ali porque é o que se pede do gênero, mas não serve pra nada se as falas, atitudes, ou justificativas pra ação forem nulas.
Sem perceber, se está assistindo um filme de ação C, que emula bons filmes, sem ser capaz de fazer jus a eles, tendo nos despejos de sangue seu intento de impressionar o espectador.
Seja no "I Saw the Devil", "Oldboy", "O Caçador", ou mesmo em "Eleição", a maestria nas cenas de ação é subserviente aos caprichos do roteiro, em consequência a diálogos bem amarrados, e engendrados sem que pareçam desculpas pra algum martelaço na cabeça de alguém. São peças ligadas, mas nas quais é bem definido qual etapa é mais importante e deve existir primeiro.
Em "Killers", os diálogos, motivações, e atuações fracas fazem com que o início promissor nunca se concretize um filme realmente eletrizante, o que não melhora quando os efeitos especiais risíveis no embate final mostram a que vieram.
Além disso, o tempo desperdiçado com um drama embebido em melosidades torna ainda menos convincente a trama, que sem necessidade excede duas horas.
Ninguém no elenco vai além do esforço, e ainda que haja derramamento de sangue o suficiente pra constranger quem considera "Jogos Vorazes" um filme violento, a única qualidade do filme dos Mo Brothers é ao menos não perder até essa característica do subgênero.


Apesar de não ser uma produção sul-coreana, "Killers" possui no cerne um propósito se igualar a elas, e não esconde isso desde o minuto inicial.
No entanto, ainda que tenha ao longo da sua metragem os trejeitos de um grande filme de ação cru e brutal, fica parecendo mais com os slasher movies que entenderam errado os célebres predecessores que popularizaram o sub-gênero.
Em se tratando de histórias criminais, mesmo "Cold Eyes", sem nenhum apego ao gore consegue impressionar mais do que os cacoetes de humor involuntário dos assassinos vistos em "Killers".
É a pequena diferença que um roteiro de verdade provoca.


Quanto vale: Nem meio ingresso.


Killers. Recomendado para: quem ainda não assistiu nenhum dos outros filmes orientais que mencionei nessa resenha. Assim quem sabe você até pode não cochilar.

Killers
(Kirazu)
Direção: Kimo Stamboel, Timo Tjahjanto
Duração: 137 minutos
Ano de produção: 2014
Gênero: Ação/Suspense/Thriller


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