Êxodo: Deuses e Reis (2014)




Numerosos filmes se empilham nos torrents após muito hype passar quando percebeu-se nos cinemas que o nome de Ridley Scott associado a eles já não significava nenhum atestado de qualidade.
Enquanto adota um discurso de realismo, pesquisa histórica aprofundada, e esmero ao retratar períodos e épocas distintas, o cineasta parece um arremedo dele mesmo, com uma filmografia que vai cada vez mais mostrando que ou seu estilo não envelheceu bem, ou que ele simplesmente agregou influências que era melhor ter deixado pra lá.
"Êxodo: Deuses e Reis", no entanto, representa um retorno a um gênero ao qual ele já contribuiu competentemente no passado, quando filmou "Gladiador" (2000), e "Cruzada" (2005), por isso, com alguma boa vontade as expectativas são melhores, apesar de seus recentes trabalhos.




Obviamente, o roteiro não é um ipsis litteris da Bíblia, e quem esperava por isso, quem sabe possa não gostar do filme desde o início.
Não é, todavia, ele exercitando a imaginação pra chocar.
Vários pontos podem ser plenamente aceitos como parte daqueles períodos e detalhes não narrados na Bíblia, ainda que alguns outros tragam um viés diferente, mesmo que nada forte o suficiente pra ganhar qualquer status cult pela crítica, ou gerar protestos de multidões.
Acima de qualquer outra coisa, "Êxodo: Deuses e Reis" é apenas um filme-catástrofe.



Nem adianta se enganar pelo monte de possibilidades que o nome do cineasta desencadeia, especialmente ao narrar um épico.
Afinal, todos os pormenores que o roteiro traz, logo perdem seu ar de potencial, e assumem o que verdadeiramente são: uma desculpa.
Um monte de linhas que estão lá pra dizer que o filme não é exatamente uma narrativa bíblica, e que servem de justificativa pros efeitos especiais que trazem às telas as pragas do Egito, e a tão aguardada passagem pelo Mar Vermelho.
Até ouso arriscar que havia uma tentativa de realizar algo mais que isso, mas tudo vai por terra quando o próprio roteiro não se decide sobre o rumo que pretende, e por vezes se arrisca em uma explicação, ou justificativa pros fatos sobrenaturais, e em outras força o Roland Emmerich que há em Ridley Scott a assumir as rédeas do longa-metragem.
Esse desconcertante modo desencontrado de contar a história não colabora em nada pra tornar o filme o mínimo coerente, mas não chega a esvaziá-lo de diversão quando isso fica claro, e não se espera mais dele do que isso: um blockbuster de roteiro por vezes preguiçoso, e em outras apenas comum. Nunca se equipara a um filme razoavelmente bom, mas se visto como um filme de efeitos especiais, e nada mais, quem sabe possa agradar quem for sem associar o nome dos envolvidos às suas filmografias.


Um dos pontos fortes, novamente é o ator Christian Bale, que certamente é um excelente ator, e este filme não fez com que eu tenha motivo pra dizer nada diferente disso. No entanto, nessa fraca versão guerrilheira do personagem Moisés, ele acaba ficando bem abaixo do que prometia.
Mesmo assim, na comparação ele ainda se destaca pelo simples fato de que no papel de Ramsés, Joel Edgerton é uma sombra desimportante na história, que em nada acrescenta realmente, e que patina entre ameaças vazias, e os erros de condução do enredo. Muito mais interessantes são os dilemas do próprio protagonista, do que a pseudo-vilania do personagem de Edgerton.
Nem os nomes de John Turturro, Sigourney Weaver, Ben Kingsley, e Aaron Paul (esse absolutamente perdido e desperdiçado no filme) colaboram pra que a parte dramática se sobressaia.


E dessa forma, entre bravatas dos lados antagônicos, o filme rasteja sem conseguir disfarçar o que é o real fator relevante no longa-metragem inteiro: a destruição e o CG.
Não é o que eu, enquanto público, julgo ser o mais importante no relato que o filme se propõe, mas que fica infelizmente no topo de interesses do cineasta, que usa todo o resto como um caminho comum pra que as cenas do trailer ganhem vida em 3 dimensões.
Na maior parte de modo apressado ou gratuito, ou os dois, rumo a um embate constrangedor frente ao Mar Vermelho aproximando-se violentamente.
"Êxodo: Deuses e Reis" serve apenas pra um divertimento ligeiro e em breve juntando poeira nas prateleiras do seu torrent favorito, que nos momentos em que é agradável é mais pela competência técnica, e alguns resquícios de qualidade em um roteiro que visto na totalidade é tão raso quanto sua pretensão.


Quanto vale:


Exodo: Deuses e Reis. Recomendado para: quem ainda tem alguma expectativa de ver um filme que preste do Ridley Scott, perder esse pouco que resta.

Exodo: Deuses e Reis
(Exodus: Gods and Kings)
Direção: Ridley Scott
Duração: 150 minutos
Ano de produção: 2014
Gênero: Ação/Drama

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