O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos (2014)



3 filmes pareciam muito, mesmo. Só que, pelo menos, "Lá e de Volta Outra Vez" era um título que soava bem demais. Evocava uma espécie de significado que é o mínimo esperado de uma nova trilogia no universo ambientado na Terra-Média. Quem sabe pudesse ser uma tentativa de Peter Jackson de mais uma vez adaptar a obra de  J. R. R. Tolkien com atenção corretamente dividida entre o respeito e admiração pelo texto original e as doses ideais de efeitos especiais embasbacantes e batalhas aproveitando cada instante dos momentos certos pra acontecer.




Mas o título mudou, e "A Batalha dos Cinco Exércitos" apenas levantou ainda mais rumores sobre essa já questionado terceiro ato, muito antes de ser lançado.
Na medida do que é possível, o que se apresenta de começo consegue ser fiel, mas não ao livro, e sim ao universo alternativo-fantástico apresentado em "Uma Jornada Inesperada" (2012), e que se distanciou com convicção dos escritos de Tolkien n"A Desolação de Smaug".


Não é que seja necessariamente melhor com as adaptações e alterações, mas sim que, o princípio do terceiro filme está devidamente alinhado com o que foi o longa-metragem de 2013.
A partir do minuto inicial, o pandemônio instaurado a base de labaredas pelo dragão Smaug (Benedict Cumberbatch) é um esperado modo de (re)apresentar a odisseia de Bilbo, que mais uma vez não será protagonista de sua própria história, o que é outra escolha do roteiro da saga no cinema, com créditos pra Fran Walsh, Philippa Boyens, Guillermo Del Toro, e pelo próprio Peter Jackson.



Fora isso, a presença de Legolas (Orlando Bloom), Tandriel (Evangeline Lilly) e o triângulo amoroso mexicano envolvendo o anão Kili (Aidan Turner), mesmo que uma adição equivocada a uma epopeia tão alongada e correndo o risco da superficialidade a cada nova cena de ação, agora é apenas parte de uma exigência atendida pelos roteiristas, como forma de tornar o filme em um blockbuster de verão, mesmo que ao custo de sua essência.
Desse modo, "A Batalha dos Cinco Exércitos" precisa ser encarado como sequência de seu antecessor, e não como adaptação do livro que o originou. A partir dA Desolação de Smaug isso se faz pré-requisito, pois com certeza os detalhes adicionais não sumiriam de um filme pra outro. Mas de repente poderiam ser dessa vez bem empregados. Com essa perspectiva, até que o enredo funciona inicialmente a contento. Afinal, com o título definitivo do terceiro filme, ninguém poderia esperar algo diferente de embates incessantes.


No entanto, uma grande falha já se apresenta pela escolha de encerrar "A Desolação de Smaug" em um momento crítico, deixando suas consequências para o ano posterior: toda a gravidade e urgência que se visava construir, acabou se perdendo no intervalo de 365 dias, ficando uma batalha colossal perdida e sem real impacto.
Mas o espetáculo visual é algo indescritível, realmente. Com o amparo do 3D em 48 quadros por segundo, uma terceira vez o diretor se esbalda em possibilidades de utilização do recurso, e a noção de profundidade, o realismo, e imersão a partir de cada detalhe favorecem o que se dependesse do roteiro seria algo bem menos impressionante.


Na maior parte do tempo, a grandiosidade parece estar muito mais no que o 3D HFR proporciona, e nos numerosos exércitos, do que no envolvimento com o drama escanteado de seus personagens.
As exceções atendem pelos nomes Martin Freeman, e Richard Armitage.
Respectivamente os intérpretes de Bilbo Bolseiro, e Thorin Escudo de Carvalho, eles são o resquício do que o enredo tem de menos, e que faz falta até os créditos finais.
Isso porque toda a batalha tem poucos momentos capazes de rivalizar com diálogos e momentos de decisão dos personagens, que espelham humanidade em dilemas sobre ambição, amizade, e honra.
Vendo o material que Peter Jackson tinha em mãos, fato é que liberdades eventualmente seriam tomadas pra que o livro infantil de Tolkien obtivesse um maior alcance nas bilheterias, mas sem sombra de dúvidas a conversão de 1 único livro em 3 filmes inchados sofreu pela escolha de criar tanto material inexistente e incoerente com a trama original.
Isso, além de fragilizar a narrativa principal, afastou o público de seus protagonistas, o que é com certeza um erro crasso em se tratando de uma trilogia que faz questão de trazer à tona seguidamente sua ligação com outra trilogia, que é um dos marcos modernos do cinema, e que dobrou Hollywood, e as atenções do público-médio a uma proposta diferenciada de blockbuster.


Tão frágil torna-se "A Batalha dos Cinco Exércitos", que os incontáveis embates se alimentam de clichês e cliffhangers óbvios, por vezes minuto a minuto, e se algumas certezas já haviam pelo fato de a trilogia inteira ser um prequel, outras tantas existem apenas pela canastrice da direção, que desavergonhadamente eleva a trilha sonora forçando um caráter épico, pra reduzir o volume a seguir fingindo calmaria, para repetir o processo várias vezes na mesma luta.

Somar isso com o romance dramalhão, a frustrante quase-batalha entre os exércitos, que perde espaço pra que Thorin Legolas protagonizem as sequência de alguns dos piores clichês mencionados acima, e aparições relâmpago de personagens importantes, é pelo menos injustiça em qualquer caso de comparação com O Senhor dos Anéis, e por isso vou evitar analisar por esse viés um filme tão prejudicado pelos seus desacertos.



Com isso, as qualidades existentes forçam na memória muito mais um Michael Bay pirotécnico e repetitivo, do que um Peter Jackson objetivando contar uma história. Isso porque, história mesmo, praticamente não há.
E quando as baixas da batalha se apresentam, e quem tinha que chorar já o fez, e é percorrido o caminho pra casa depois do temporal de espadas, lanças, e flechas, o vazio que permanece é por ser perceptível que "O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos" não disse o que veio contar, e que apesar de 3 filmes de mais de duas horas, Peter Jackson inventou muito e transmitiu pouco de verdadeiro no que era fundamental na questionável nova franquia que tem seu nome como chamariz.
O filme parece uma versão com cenas adicionais na ação, e cortes na construção de personagens, e no que houve de desenvolvimento deles (e até mesmo dos novos personagens que acabam perdidos no carnaval de batalhas incompletas), mas dessa vez, eu com certeza vou ficar na curiosidade, e deixar passar a versão estendida.

Quanto vale: 


O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos. Recomendado para: um possível derradeiro vislumbre do sensacional 3D 48 quadros por segundo, ao menos por umas temporadas, ainda que acompanhado por um magistralmente medíocre e equivocado roteiro.

O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos
(The Hobbit: The Battle of the Five Armies)
Direção: Peter Jackson
Duração: 144 minutos
Ano de produção: 2014 
Gênero: Ação/Aventura/Fantasia

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