A Teoria de Tudo (2014)



Basta ver as primeiras cenas do ator Eddie Redmayne interpretando Stephen Hawking pra ter uma impressão inicial muito favorável.
Não que as cenas representem algo de muito interessante, até porque essas representações de felicidade extrema em momentos do dia-a-dia costumam ser algo bastante batido, e mostrado de modo a afastar o realismo do filme.
O diferencial mesmo é na atuação do cara que parece não estar atuando, e é algo que vai ser reforçado ao longo da história.



O filme "A Teoria de Tudo" narra a vida de Hawking a partir do livro "A Teoria de Tudo: A Extraordinária História de Jane e Stephen Hawking", escrito pela primeira esposa dele, Jane, que é interpretada na produção pela Felicity Jones.
O roteiro é focado no romance dos dois, desde quando o protagonista ainda não faz ideia que a doença do neurônio motor vai emergir pra abalar seus dias e reduzir pra dois anos a sua expectativa de vida.
Mas antes da degeneração motora atingir sua vida que nem uma bomba, ele conhece Jane, e mesmo com os comentários de que Stephen seria um "cara estranho", ela não consegue evitar a aproximação.
Nem mesmo a divergência entre ele, ateu, e ela frequentadora da igreja dominicalmente, é empecilho o bastante, e isso permite a sucessão de cenas em que Redmayne e Felicity Jones põem em prática a química da dupla de atores, numa espécie de conto de fadas que, apesar do que era esperado, continua mesmo após a doença.
E é nesse ponto que o principal problema de "A Teoria de Tudo" se consolida.
Se até então o enredo prosseguia sem percalços pro aspecto romântico, e os dois tinham sempre as suas respostas espertas na ponta da língua, fazendo os diálogos parecerem menos convincentes, ao menos não havia um grande motivo pra mudança no tom da trama.
Agora, depois que é revelada a doença, pelo menos as coisas deveriam mudar bastante.
O que não ocorre, e com isso o desenrolar permanece moldado em uma visão otimista, que muito lembra uns telefilmes que apenas vão narrando a sucessão de eventos pra fim de andamento do filme, e não pra aprofundar os personagens.
Isso porque, apesar da assombrosa atuação de Eddie Redmayne, seu personagem é apresentado basicamente com o mesmo otimismo em 90% do filme. Na representação cinematográfica, a doença é um limitador físico, mas não um momento traumático que redefine e afeta a vida dele e das pessoas ao redor.




Essa escolha pela manutenção da perfeição nas pessoas quem sabe seja por o diretor James Marsh estar trabalhando com base no livro escrito por Jane, e claro, pelo limitador de as pessoas retratadas estarem vivas, e alguns aspectos da história que viveram não serem necessariamente tão adequados pra um relato romântico idealizado sobre o casal.
Ainda que seja raro algum longa-metragem ter a coragem de lidar com esse tipo de questão sem disfarçar as coisas, exemplos que nem o do "Foxcatcher", no qual o diretor Bennett Miller comprou a raiva do protagonizado Mark Schultz trazem maior verossimilhança pro enredo.
James Marsh opta por adotar em seus personagens uma inocência no que foi um relacionamento mais complicado, e que envolveu inclusive um triângulo amoroso bem menos romanceado do que é visto no longa-metragem.
Com os percalços minimizados acompanhá-lo acaba lembrando a sensação de assistir qualquer romance meloso, com o diferencial da vida de quem está sendo retratada, e sem a menção a isso não haveria qualquer chance de constar na lista de melhores do Oscar.
A força motriz do filme é de fato o romance, e a narrativa sobre a vida de Hawking perde muito, não por deixar de lado a profundidade no aspecto científico que margeia a trama, e sim por concentrar sua atenção em um modo de narrar que mais lembra um conto de fadas do que uma biografia, que pra ter intensidade pede também os defeitos dos personagens.



O grande destaque fica por parte das atuações, ainda que Redmayne realmente domine a cena.
Sua interpretação utiliza a semelhança física em relação ao verdadeiro Stephen Hawking, mas não se escora nela. É um trabalho que compensa mesmo as cenas mais óbvias, porque ele é o personagem sem concessões, ou poréms. Ainda que o roteiro o prive de expressar outras características do protagonista, que apenas enriqueceriam sua interpretação com mais camadas de desenvolvimento, a cena da caneta, próximo ao fim do filme só demonstra o quanto ele foi uma peça fundamental pra essa produção.


"A Teoria de Tudo" não é algo pra chamar de dramalhão, porém também não chega a ser um drama dos mais eficazes.
Quem assiste percebe que as cenas relatam momentos intensos, e que era esperado se comover com isso. Agora, pro aspecto emocional funcionar já depende muito mais de perceber que os personagens tem suas vidas, personalidades e escolhas influenciadas pelos momentos conflituosos, o que só é visto depois de muito filme algumas raras vezes no Stephen e na sua esposa.
Pra permanecer nos trilhos, e ainda uma sessão de cinema interessante, felizmente o filme conta com um elenco talentoso e dedicado, uma direção de fotografia destacada, e uma trilha sonora em sintonia com a atmosfera do enredo.
Ainda é menos do que o potencial da produção poderia muito bem alcançar.
Porém é o bastante pra não ser apenas mais um romance.


Quanto vale:



A Teoria de Tudo. Recomendado para: conhecer um viés da história no qual os conflitos são na medida do possível amenizados.

A Teoria de Tudo
(The Theory of Everything)
Direção: James Marsh
Duração: 123 minutos
Ano de produção: 2014
Gênero: Drama

Confere as críticas de outros indicados ao Oscar 2015 CLICANDO NESSE LINK.

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