Ida (2013)



Eu costumo ter um apreço pelos filmes indicados a melhor filme estrangeiro no Academy Awards.
Isso porque diferente da alta porcentagem de blockbusters melosodramáticos indicados na categoria melhor filme, nos filmes falados em língua que não o inglês tendem a apresenta menos de uma estrutura formulaica.
O resto pode fracassar, mas tem uma maior chance de surpreender.



Nessa produção polonesa, o diretor Pawel Pawlikowski assina o roteiro juntamente com Rebecca Lenkiewicz, e traz a história da protagonista Ida (interpretada pela Agata Trzebuchowska) em uma jornada de descoberta repleta de sutilezas.
O filme, todo em preto e branco, segue ao lado dela desde sua rotina no convento no qual foi criada, até o encontro com sua única parente viva, e que vai ser o ponto de partida pra um road movie de aprendizados.
Juntamente com sua tia Wanda (Agata Kulesza) Ida vai em busca do túmulo de seus pais, vítimas do nazismo, sendo o estopim do desenvolvimento de pontos de vista novos por parte de ambas.
O contraste entre as duas é o que move o filme, afinal, não há grandes acontecimentos, ou fatos reveladores que fujam do esperado.
Enquanto Ida é uma noviça, na véspera de fazer seus votos e se tornar freira, e com restrições quanto ao mundo apresentado a sua volta, Wanda é uma pessoa amarga e que se refugia na efemeridade de uma vida que se apresenta de cor similar à que a direção de fotografia destina às cenas da produção.
Os pontos de mudança existem em torno delas, e mesmo que a dedicação extensiva do diretor a planos longos e momentos quase estáticos faça os 82 minutos parecerem ainda mais subaproveitados, as duas mulheres estando no centro da trama garantem que haja sim algo sendo dito, mesmo em vários dos momentos nos quais quase nada é conversado.



O retrato da Polônia no pós-guerra é lúgubre e desolador, e se alimenta da própria direção de fotografia e do andamento pra ser uma ambientação ainda mais desconfortável.
Bem-intencionado, no entanto, "Ida" não deixa de ser um exercício cinematográfico que requer mais boa vontade do espectador em apreciar suas qualidades técnicas, mas não apreciando necessariamente o drama da jornada proposta.
Fica bem claro que os significados estão ali. Apenas não existe porque se importar com os personagens.
Parte da "culpa" por isso é do filme ser pensado pra ser um longa-metragem, mas com apenas 1h e 20min, quando, pelo que tem a transmitir, vários são os momentos em que a câmera simplesmente prolonga sua atenção em cenas nas quais tudo já foi falado ou mostrado. Pra contemplar a paisagem que a fotografia destaca? Legal. Mas isso é o principal que o filme quer transmitir?
Dessa forma, o filme do Pawlikowski ganha minutos a mais, ainda que não conteúdo a mais.
Seria um excelente curta ou média-metragem, com foco no amadurecimento de sua protagonista, e sem os excessos que se servem pra algo é pra levar a plateia a encarar por mais umas dezenas de segundos a bonita direção de fotografia, mas que sendo um elemento a trabalhar juntamente com o filme, não exerce o mesmo efeito quando se torna a única coisa a ser contemplada sempre que o cineasta decide manter a lente voltada pro cenário depois de a ação da cena ter sido concluída.


É pra ser um filme de arte, e "Ida" com certeza tem essa arte expressa a cada nova sequência apresentada, em cada enquadramento e instante bem construído.
Essa intenção, no entanto, esbarra no roteiro que poderia ter muito mais pra relatar, e sem a exigência de inchar sua metragem a base de cenas prolongadas por mero interesse em deslumbrar o público com visual e trilha sonora.
Há certamente algo de valioso na busca da protagonista.
Algo que não precisaria do rótulo de "cinema de arte" pra ser algo poderoso, mas que acabou sufocado pelo que pode até agradar visualmente, porém sem impactar o tanto que poderia.

Quanto vale:


Ida. Recomendado para: quem procura uma bem-intencionada hora e vinte de cinema de arte pouco envolvente.

Ida
(Ida)
Direção: Pawel Pawlikowski
Duração: 82 minutos
Ano de produção: 2013
Gênero: Drama

Confere as críticas de outros indicados ao Oscar 2015 CLICANDO NESSE LINK.

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