Exilados (2006)



Tem um grave desserviço providenciado pelos montes de filmes genéricos de ação dessas épocas.
Toda época, na verdade providencia uma cambada de filme tão formatado pra replicar fórmula que entedia desde o título.
A diferença é que agora o poder do hype e o efeito CG traçam o rumo de sucesso antes de a primeira plateia sequer ter entrado na sala de cinema.
Esse desserviço faz com que eu falar aqui de um filme de ação, que é o caso desse “Exilados”, soar uma baita porquera.
O filme do cineasta Johnnie To é filme de ação sem ter receio algum de esbarrar em pré-conceitos edificados pelo levante do CG.
Aliás, a filmografia dele é repleta de trabalhos assim.


Já havia assistido outros filmes do cara, mas esse é o primeiro que eu resenho, e é mais um que denota a capacidade do diretor em cuspir no modismo e tramar pros seus personagens algo que só não é algo ultrapassado porque é de uma qualidade que o torna atemporal.
Os protagonistas de “Exilados” vivem um western de mafiosos que faz a memória se povoar com os “Alvo Duplo”, “Fervura Máxima”, e outras grandes obras de ação dos antigamentes do diretor John Woo. Mas daí, se fosse pra ficar nisso, pareceria só uma rendição respeitosa e xerocada, com umas estilizações, que nem foi com o fraco “Django Livre”.
Esse western moderno do Johnnie To, que dialoga também com trabalhos do Sam Peckinpah, fala bem mais é com a filmografia e características do próprio Johnnie To.
E esse é um dos fatores que faz “Exilados”, ainda que de um roteiro tão simples, ser ao mesmo tempo um trabalho tão fácil de apreciar.
Nem é a imprevisibilidade de plot twists, ou falsos momentos dramáticos.
O longa-metragem não precisa disso.
O seu envolvimento com o público se deve aos personagens fortes, que tem os protagonistas interpretados por Anthony Wong, Francis Ng, Nick Cheung, Roy Cheung, e Suet Lam, e que estrelam tanto cenas de tiroteio brilhantes, quanto momentos de silenciosa tensão, ou calmaria e humor que ajuda a entender quem são esses mafiosos divididos por códigos de honra, obrigações com chefões do crime, e dilemas de lealdade que não impedem de tentar acertar um balaço na cara de um amigo.
E sendo a rocha no sapato dos caras está o vilão carismático interpretado pelo Simon Yam.
Pra deixar tudo mais digno de contemplação, o diretor conta com enquadramentos e fotografia precisos e que ressaltam a influência advinda do faroeste, o que proporciona cenas sensacionais em que muitas vezes os caras só estão ali sem fazer nada.
É o pensar o cinema enquanto arte que vai além de empurrar a história até a hora da ação, porque todo frame é importante.



Algo que pede um tanto a mais de suspensão de descrença no que já é um roteiro, conforme eu disse, bem simples, são as tantas ocasiões em que os tiros têm destino certo, mas insistem em desviar de seus alvos, que se fosse pra levar à risca, já teriam morrido há algumas cenas, mas nessa insistência em errar contra personagens importantes (heróis ou vilões) eles permanecem pra se enfrentar em algum outro ponto da história.
Isso é prejudicial quando se percebe que alguns confrontos, apesar de muito bem realizados podem não resultar em baixas mesmo quando o cara não tiver nenhuma escapatória plausível pra evitar ser atingido, e isso diminui a tensão com a repetição do recurso.


Exilados”, enquanto filme de ação proporciona mais do que o rótulo tem associado atualmente.
Isso porque não é um produto impregnado pelas tendências, ou disposto a abandonar o que a carreira de seu diretor comprovou ser capaz de criar não apenas em cinema de ação, mas sim em se tratando de bom cinema de ação.
Sem cara de franquia, nem momentos de romantismo barato, ou drama onde não existe necessidade, “Exilados” é um filme de ação que não vai transformar sua percepção a respeito da sétima arte, o que não o impede de ser uma boa sessão de cinema na qual nenhum marketing prévio precisa lhe dizer pra gostar do filme pra que isso realmente aconteça.



Quanto vale:


Exilados. Recomendado para: lamentar o aparelho vídeo-cassete ter estragado, e impedir de re-assistir uns VHS de filme bom que nunca teve o número de visualizações do trailer no youtube como fator de convencimento de sua qualidade.

Exilados
(Fong Juk)
Direção: Johnnie To
Duração: 110 minutos
Ano de produção: 2006
Gênero: Ação

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