Outrage Beyond (2012)



Desses grandes nomes dentre os cineastas que ainda estão atuantes no ofício de realizar cinema relevante e influente, um dos caras que não falta em lista nenhuma que se preze é o Takeshi Kitano.
O diretor japonês possui vários importantes filmes na carreira que transcendem o que se espera de um filme de ação.
Dentre esses trabalhos ficou clara a predileção dele por trabalhar com histórias a respeito da máfia japonesa, tema também deste "Outrage Beyond", lançamento de 2012 que marca inclusive a primeira sequência de um trabalho seu.



Trazendo o prosseguimento dos acontecimentos vistos em "Outrage" (2010), "Beyond" abraça características de seu predecessor incluindo um tom mais sóbrio mas sem abrir mão do humor negro.
A diferença é que, se no primeiro "Outrage" o humor negro em grande parte marcava a atmosfera da trama, dessa vez o clima de sátira crua da ligação entre máfia/polícia/politicagem cede muito espaço pra um jogo de xadrez envolvendo os diversos níveis hierárquicos da yakuza.
É assim que Takeshi Kitano (outra vez diretor, roteirista, editor e ator) posiciona seus personagens tentando puxar o tapete uns dos outros pra acender na profissão.
Agora lideram a família Sanno os rostos familiares do primeiro filme Kato (interpretado pelo Tomokazu Miura) e Ishihara (Ryô Kaze), trazendo mudanças significativas ao status quo, e despertando nos demais uma sensação de instabilidade que vai implicar invariavelmente em reuniões entre opositores planejando uma troca de liderança, e consequente matança.



Neste cenário, desempenham grande importância o detetive Kataoka (Fumiyo Kohinata) e o clã Hanabishi, que possuem também seus interesses e percebem a oportunidade pra sair ganhando sem precisar se incomodar muito.
Tudo ocorre muito mais na base da influência, intimidando as pessoas certas, cobrando o preço de quem se aliar às pessoas erradas, e em reuniões nas quais às vezes na base da sutileza, e em outras na base do grito chegando à beira do enfrentamento físico.
Nesse ínterim, volta a cena o implacável e carismático gangster Otomo, personagem do próprio Takeshi Kitano que se torna peça fundamental na briga por poder da qual ele mesmo não quer tomar parte, mas...
Isso não impede ele de ser agente catalisador de um levante de violência que inclui tortura com furadeira na cara, bolas de beisebol servindo a fraturas múltiplas, mão auto-mutilada na base da dentada, e muito tiroteio à moda samurai (não espere coreografias ultra-dinâmicas, ou câmeras lentas pra fazer um gangster parecer mais que um cara apertando o gatilho na frieza do desempenho do serviço).
Mais coeso que o filme anterior, ainda que menos divertido, "Beyond" investe forte na criação de tensão por meio de diálogos e incertezas a respeito de em quem confiar quando a tradição e lealdade estão mais presentes nos discursos do que nas atitudes de todos os envolvidos.
Isso, aliás, rende um contraste muito divertido entre a forma quase burocrática empregada pela maioria dos mafiosos do filme, com suas reverências e respeito à hierarquia, e a chegada de Otomo, essencialmente desbocado e cagando pra quem é o figurão mais graduado na vida criminal presente na conversa.


Até por não adotar uma estrutura de elementos e funções tão identificáveis quanto no primeiro "Outrage", o filme de 2012 parece muito menos palatável a um público amplo.
Enquanto ambos os filmes compartilham um apreço pelo humor negro, "Outrage Beyond" direciona pros acertos de bastidores sua maior atenção, sem importar muito a forma de a máfia conseguir dinheiro, ou de manipular a polícia.
É uma história que mais do que ser um "filme de vingança" joga seus personagens e suas ambições uns contra os outros pra ver quem aproveita melhor a chance de manipular adversários e recolher o que houver de valor nos cacos que sobrarem do conflito.
Aquele tipo de filme policial com estilo que Takeshi Kitano faz bem.



Quanto vale:


Outrage Beyond. Recomendado para: ter uma dose de filme de ação em que CG tresloucado, interesses românticos, e finais felizes não têm vez.

Outrage Beyond
(Autoreiji Byiondo)
Direção: Takeshi Kitano
Duração: 112 minutos
Ano de produção: 2012
Gênero: Ação/Policial

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