Cold Fish (2010)



Baseado em fatos reais.
Tá certo que o "Fargo" tratou de desmitificar um tanto essa frase que acompanha pencas de filmes Oscarianos anualmente.
Mas isso nem de longe te prepara pro espetáculo de uma descomunal absurdez que é esse "Cold Fish".
Primeiro porque no seu filme o diretor Sion Sono está pouco se lascando pra essas pretensões de ganhar prêmio de filme choroso.
Seu trabalho é casca-grossa em doses nada homeopáticas, e sua condução da trama é simplesmente brilhante, e a violência ganha contornos de transgressão a cada nova cena filmada com perfeição.




E nem adiante sentir pena do mal-acabado protagonista que é a epítome da inércia, porque se o diretor do também perturbador "Suicide Club" (Jisatsu Sâkuru) não se importa com ele, então a sucessão de intempéries na vida dele vai ser apresentada sem cerimônia.
O tal protagonista é Nobuyuki Syamoto (atuado de maneira formidável pelo Mitsuru Fukikoshi), dono de uma loja de artigos relacionados a piscicultura, que mora com sua esposa Taeko (Megumi Kagurazaka), e a filha Mitsuko (Hikari Kajiwara).
No caminho deles aparece o empresário do mesmo ramo profissional que o Syamoto, o cheio de carisma Sr. Murata (impagável e magistralmente interpretado pelo ator Denden), e sua esposa Aiko (Asuka Kurosawa, em uma atuação sensacional).
Se dependesse do Syamoto, sua vida seria a monotonia que é capaz de levar a óbito, mas o encontro inusitado desses personagens provoca um choque de idissioncrasias, falhas de caráter, interesses (e patologias, por que não?) que descarrila o trem da vida do protagonista de uma vez só.




As situações vão progredindo, exigindo cada vez mais resistência dos estômagos dos espectadores, em banhos de gore, fatalidades pintadas em humor negro exemplar, e outros excessos que em "Cold Fish" parecem plenamente aceitáveis diante da natureza dos personagens, do desenrolar dos fatos, e das atuações excelentes.
Curiosamente, esse filme japonês, ao mesmo tempo em que bebe na fonte da absurdez que o gore japonês há muito chama de sua, fez lembrar alguns grandes filmes policiais sul-coreanos, de roteiro afiado, e nenhum pudor quanto ao teor das cenas violentas que o enredo fez questão de preparar com eficiência.
Um maiúsculo tratado sobre demência, relacionamentos abusivos, em um filme transgressor e perturbador.



Pros desavisados, esse filme possui praticamente todos os elementos que fazem os fãs de blockbusters típicos torcerem o nariz na nuca e chorarem.
Então, não espere romance (o que acontece no filme deve ter algum outro nome peculiar), redenções (o que acontece no filme deve ter algum outro nome peculiar), ou humor (a não ser aquele tipo de humor que em geral faz grande parte da plateia virar o rosto em manifestação de aversão).
Pode ser que chegue a um ponto em que tu se pergunte "por que afinal eu tô assistindo uma coisa dessas?". Ou que ao final da sessão lhe pareça que viu cenas desconfortáveis demais pra quem achou violento o Batman e o Superman inticando um com o outro, mas independente dessas alternativas (ou outras) uma coisa é certa: "Cold Fish" vai deixar umas quantas cenas gravadas na tua mente.
Coisa que muito longa-metragem dito "melhor do ano" não consegue.
Gostar do filme deixo na conta da subjetividade.



Quanto vale:


Cold Fish. Recomendado para: quem já tem apreço por algum gênero de cinema extremo, senão vai vir reclamar aqui depois.

Cold Fish
(Tsumetai nettaigyo)
Direção: Sion Sono
Duração: 146 minutos
Ano de produção: 2010

Gênero: Thriller/Suspense/Terror
 
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